Kuxa Kanema: O Nascimento do Cinema da diretora Margarida Cardoso é um documentário composto a partir de um jornal semanal de Moçambique com o mesmo título. O filme aborda a história do cinema moçambicano logo após à independência (1975). Com imagens e testemunhos da época, o documentário nos transporta para um passado cheio de sonhos e idealizações de um futuro livre.
Um cinema para o povo
Quando pesquisamos e estudamos a produção cinematográfica africana de língua portuguesa, descobrimos logo a grande dificuldade de desenvolvimento da área nos países pós coloniais. A dificuldade é grande pela falta de recursos, de investimentos governamentais e mão de obra especializada. Em Moçambique, no entanto, encontramos uma exceção. O país é pioneiro na história cinematográfica africana pós-colonial. A serviço do estado marxista que surgiu após o colonialismo português, as unidades de cinema móvel mostravam através de um circuito nacional a mais popular produção: o jornal cinematográfico Kuxa Kanema que desejava "filmar a imagem do povo e devolvê-la ao povo”.
Em 1975, ano da Independência, o governo da FRELIMO cria o Instituto de Cinema de Moçambique, e convida Rui Guerra (moçambicano, que na época estava no Brasil) para ser o diretor. O cinema foi usado para educação e propaganda ideológica no processo de construção simbólica do Estado-nação independente. O Instituto de Cinema reuniu cineastas locais e estrangeiros, bem como escritores, roteiristas e editores. Entre os grandes cineastas que ajudaram no desenvolvimento do cinema moçambicano, estão Jean Rouch e Jean Luc Godard.
Infelizmente, após anos de guerra civil, o Instituto foi incendiado em 1991, e todos os sonhos e materiais investidos foram perdidos. Algumas imagens dos primeiros anos pós coloniais, entretanto, foram preservadas.
Através dessas imagens e entrevistas, que Margarida Cardoso mostra, em um belo documentário, os projetos e idealizações de um país que planejava construir seu país por meio de suas próprias imagens.