Kuxa Kanema, o nascimento do cinema



 Kuxa Kanema: O Nascimento do Cinema da diretora Margarida Cardoso é um documentário composto a partir de um jornal semanal de Moçambique com o mesmo título. O filme aborda a história do cinema moçambicano logo após à independência (1975). Com imagens e testemunhos da época, o documentário nos transporta para um passado cheio de sonhos e idealizações de um futuro livre.
(Margarida Cardoso, Moçambique, 2003, Doc., 53min, Cor)





Um cinema para o povo
Quando pesquisamos e estudamos a produção cinematográfica africana de língua portuguesa, descobrimos logo a grande dificuldade de desenvolvimento da área nos países pós coloniais. A dificuldade é grande pela falta de recursos, de investimentos governamentais e mão de obra especializada. Em Moçambique, no entanto, encontramos uma exceção. O país é pioneiro na história cinematográfica africana pós-colonial. A serviço do estado marxista que surgiu após o colonialismo português, as unidades de cinema móvel mostravam através de um circuito nacional a mais popular produção: o jornal cinematográfico Kuxa Kanema que desejava "filmar a imagem do povo e devolvê-la ao povo”.
Em 1975, ano da Independência, o governo da FRELIMO cria o Instituto de Cinema de Moçambique, e convida Rui Guerra (moçambicano, que na época estava no Brasil) para ser o diretor. O cinema foi usado para educação e propaganda ideológica no processo de construção simbólica do Estado-nação independente. O Instituto de Cinema reuniu cineastas locais e estrangeiros, bem como escritores, roteiristas e editores. Entre os grandes cineastas que ajudaram no desenvolvimento do cinema moçambicano, estão Jean Rouch e Jean Luc Godard.
Infelizmente, após anos de guerra civil, o Instituto foi incendiado em 1991, e todos os sonhos e materiais investidos foram perdidos. Algumas imagens dos primeiros anos pós coloniais, entretanto, foram preservadas.
Através dessas imagens e entrevistas, que Margarida Cardoso mostra, em um belo documentário, os projetos e idealizações de um país que planejava construir seu país por meio de suas próprias imagens.




Ngwenya, o crocodilo

Ngwenya, o crocodilo é um documentário realizado por Isabel Noronha. O filme conta a história do artista moçambicano Malangatana. "Um dia, Xiluwa conheceu Cecília, fiha de Malangatana, viu os desenhos e achou que era ele quem poderia traduzir em palavras esse universo sensorial a que ela sabia pertencer mas não podia nomear. E guardou de Malangatana a promessa de a levar um dia a esse lugar mágico onde tudo está inscrito, sem precisar de palavras. Trinta anos depois, partem juntos à procura das chaves para a compreensão de um Universo situado algures entre a Tradição e a Modernidade, viajando entre memórias sensoriais e histórias de infância, medos nocturnos e histórias míticas, lembranças eróticas e o calor da fogueira, histórias de luta e de armação de uma Identidade em construção. A cada dia dessa Viagem, a tela revela um pouco mais dos contornos oníricos e das infiinitas cores do Palácio Sagrado de Malangatana Ngwenya: ele mesmo."  http://www.flcs.uem.mz/files/progccm.pdf
(Isabel Noronha, Moçambique, 2007, Doc., 90min, Cor)

A ideia de realizar o documentário tem origem na infância de Isabel Noronha. Isabel estudou com a filha de Malangatana, Cecília, e através desta amizade Isabel pode conhecer o lado mais rural e tradicional de Moçambique (já que ela morava na cidade). Nas visitas a Cecília, Isabel sentia o desejo de conhecer mais o universo ronga, do qual Malangatana fazia parte.
A diretora conseguiu mostrar muito bem o universo místico de Malangatana e como este artista e homem moçambicano transita de um espaço para o outro: do espaço da tradição para o espaço da modernidade e vice-versa (visto que nem todos moçambicanos conseguem realizar viagens entre os dois mundos).

Para saber mais sobre a motivação de Isabel Noronha realização do documentário Ngwenya, o crocodilo, visite o site no qual ela responde a perguntas sobre o filme.

Infelizmente, o documentário não está disponível para aquisição!
Se eu souber de alguma maneira de adquiri-lo eu aviso!

Ciclo de Cinema Moçambicano


     A Faculdade de Letras e Ciências Sociais, da Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique, está promovendo um ciclo de filmes moçambicanos entre os dias 10/08 e 02/09, na própria faculdade.
     O festival é aberto aos estudantes que, além de assistirem os filmes, terão a oportunidade de participar de paineis e debates relacionados ao tema "Arte e Cultura: Arte ou Cultura".
      Serão exibidos mais de 20 filmes de importantes diretores da história e da atualidade do cinema do país como Jean Rouch, Sol de Carvalho, João Ribeiro, Isabel de Noronha, Licínio de Azevedo, Orlando Mesquita, entre outros.
       Vale a pena entrar no link do evento para conhecer os filmes, e no site da Faculdade Eduardo Mondlane para conhecer mais sobre o trabalho da instituição.

SVAFF Silicon Valley African Film Festival



       O Festival  Silicon Valley African Film Festival acontecerá nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 2011, na Califórnia, EUA. Este festival apresentará 30 filmes de diferentes países africanos, com o intuito de mostrar a história africana contada por africanos: "Africa through African lens! A showcase of first voice filmmakers whose works reflect the true stories, hopes and dreams of Africa."

        A missão deste festival ("The mission of the Silicon Valley African Film Festival is to promote an understanding and appreciation of Africa and Africans through moving images") coaduna perfeitamente com o que temos dito aqui: que as narrativas fílmicas e imagens cinematográficas africanas são capazes de nos contar uma nova história, a sua própria história , através de suas próprias lentes, sem ser permeada pelo ponto de vista eurocêntrico (aliás, essa é a ideia que traz o banner do evento, reparem: a lente gera imagens sob o ponto de vista do continente africano) . Poderíamos citar a frase de Ella Shohat e Robert Stam que explicita exatamente tal dimensão dos filmes produzidos por países não hegemônicos; diante do historicismo eurocêntrico, os diretores do Terceiro Mundo e das minorias reescreveram suas próprias histórias, tomando o controle das próprias imagens e falando com suas próprias vozes”.
       O SVAFF apresentará dois filmes da África lusófona (isso é muito bom!!): O Herói, do diretor Zezé Gamboa - filme produzido em Angola; e O Olhar das Estrelas, um curta de João Ribeiro, de Moçambique (filmes que em breve terão as sinopses e comentários aqui). Ambos, obras representativas dos seus respectivos países. (O Herói pode ser adquirido no site da amazon).

       Quem quiser saber mais sobre o festival e conhecer os filmes que farão parte do evento visite o site da SVAFF.

        Eu, infelizmente, não poderei estar presente! Mas se alguém for, conte-nos como foi!


Olhar Estrangeiro, de Lúcia Murat


Olhar estrangeiro é um filme sobre os clichês e as fantasias que se avolumam pelo mundo afora sobre o Brasil. O documentário mostra, por meio de vários filmes estrangeiros, a visão que o cinema mundial tem do país. Filmado na França (Lyon e Paris), Suécia (Estocolmo) e EUA (Nova York e Los Angeles), o filme, através de entrevistas com os diretores, roteiristas e atores, desvenda os mecanismos que produzem esses clichês.

(Lúcia Murat, Brasil, 2005, Documentário, 70 min, Cor).



Este documentário de Lúcia Murat tem tudo a ver com o assunto deste blog!
Olhar Estrangeiro, um personagem chamado Brasil, baseado no livro O Brasil dos Gringos, imagem e cinema, de Tunico Amâncio, mostra o poder da narrativa de ficção e da imagem em constituir um imaginário sobre um país. O documentário traz uma série de filmes estrangeiros, feitos a partir da segunda metade do século XX, que tem como “personagem” o Brasil, e mostra, como estes filmes, afirmam e reafirmam um olhar imigrante estereotipado sobre o país.
Segundo Lucia Murat: “O olhar estrangeiro pode ser definido como aquele que apenas registra o que lhe é diferente, o que lhe é estranho, eliminando o resto. A nossa pergunta é de que maneira esse diferente foi sentido, de que maneira esse diferente foi criado, de que maneira esse diferente foi imposto. Não estamos à procura de uma única resposta, mas de nos acercarmos (e cercarmos) esses olhares” (http://www.taigafilmes.com/olhar/port.html)
Para mostrar como esse diferente foi criado, Lúcia trabalha com os clichês que o cinema mundial apresenta sobre o nosso país. Esses filmes constituem esse “personagem chamado Brasil”, pois criam um imaginário do país baseado em clichês e estereótipos do que seria o país e os brasileiros. Grande parte destes filmes, por exemplo, mostra um Brasil situado no Rio Janeiro (somente), na praia ensolarada, com mulheres bonitas, e em alguns, mulheres de topless – é recorrente a ideia de erotismo e sensualidade vinculados a esse “paraíso”. O Brasil, nesses filmes, é um lugar de muita música animada, com samba, rituais afro-brasileiros, carnaval e divertimento, e junto vem atrelado o imaginário de pessoas ociosas, e onde se consegue tudo muito facilmente, por meio do jeitinho brasileiro, que nos filmes, é a malandragem.
Para conhecer mais sobre Olhar Estrangeiro e a proposta dos realizadores, visite o site da produtora do documentário: http://www.taigafilmes.com/olhar/ 


           O DVD pode ser adquirido na Livraria Cultura e na Livraria Saraiva.
           Vale a pena conferir!

5º Festival Cineport



   João Pessoa será a cidade sede do Festival Cineport (Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa) deste ano de 2011. Na sua 5º edição, o Festival acontecerá em setembro, de 19 a 25, e terá como homenageado o país Cabo Verde. 
    A cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba, não sedia pela primeira vez este festival. Nos anos de 2007 e 2009, as 3ª e 4ª edições, respectivamente, também aconteceram neste local. A cidade ganha destaque neste Festival, pois a Fundação Ormeo Junqueira Botelho, entidade promotora do evento, mantém em João Pessoa, um belo espaço cultural, a Usina Cultural ENERGISA, local que abriga o Cineport.
  O Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa, Cineport, possui papel importantíssimo para divulgação e promoção dos filmes e diretores de língua portuguesa, sobretudo os africanos. Faz parte dos objetivos do evento: promover a integração do mercado cinematográfico da comunidade de países de língua portuguesa, estimulando o intercâmbio cultural, realizando conferências, palestras e lançamentos de filmes, DVDs, vídeos. 
   Além disso, o Cineport promove mostras competitivas de longa e curta-metragens. As premiações para este ano são: Andorinha Longa Metragem, Andorinha Curta Metragem, Andorinha Técnica, Andorinha Criança e Humberto Mauro. O festival também conta com mostras de homenagens a personalidades e mostra infantil.
    A 5ª edição promoverá também o  Prêmio Energisa Estímulo ao Audiovisual Paraibano, que premiará filmes produzidos e realizados na Paraíba e por diretores do estado.

   Ainda não está disponível a programação da 5ª edição do Cineport, mas assim que soubermos postaremos aqui!

    Para saber mais sobre este grande evento, visite o site do festival. 

   Quem puder participar do Cineport terá a oportunidade de conhecer mais sobre o rico cinema de língua portuguesa, além de ter a chance conhecer e visitar a cidade de João Pessoa. Esta é, sem dúvida, uma ocasião imperdível, já que a maioria dos Festivais voltados para o cinema de língua portuguesa ocorrem fora do Brasil. 

     Encontraremos-nos lá!

O jardim do outro homem, de Sol de Carvalho



O jardim do outro homem, através da protagonista Sofia, conta-nos uma história de pobreza, corrupção e chantagem. A família da Sofia, moradora de uma região pobre de Maputo, é formada por mulheres que trabalham partindo pedras. Sofia sonha em ser médica, mas para entrar na universidade tem de passar num teste decisivo de biologia. Compreendendo esta necessidade, o professor Mangueira aproveita para a chantagear, trocando uma nota positiva por um favor sexual. Sofia acaba sendo vítima desta chantagem, mesmo desconfiada de que o professor possa estar infectado pelo HIV e sabendo que ele não queira, como a maioria dos homens, usar o preservativo. O filme tem o objetivo de alertar para o problema da SIDA (AIDS) em Moçambique, e como de forma espantosa vai se alastrando pelo país.                                                       (Sol de Carvalho, Moçambique, 2006, Ficção, 80min, Cor).